Fonte: TV Show I love Lucy http://www.jwrworkings.com |
Isso me faz lembrar a minha mãe, uma mulher que nasceu em 1939, que foi criada para ser Amélia, a mulher de verdade, e que mesmo trabalhando fora, tendo criado 6 filhos (a gang veio em escadinha, e depois de 15 anos daquela que seria a caçula, veio a minha pessoa) ainda tinha tempo de sentar na cama para costurar botão das camisas do meu pai, fazer a barra das calças dele a mão, preparar o café da manhã do galã e no almoço e no jantar fazer o prato do bonito.
Eu achava isso o fim da picada, como podia isso? Fazer o prato? Os homens lá de casa não tiram nem a xícara da mesa, sobra tudo para a mulherada, e eu ficava p#%$& quando via isso. Nunca esqueço o dia em que sai correndo porta a fora para brincar na rua e minha mãe deu um berro daqueles me mandando voltar e limpar a mesa, eu voltei (porque ai se não voltasse...) e disse a minha mãe que eu havia limpado a mesa, e ela me respondeu que meu pai havia almoçado e deixou tudo na mesa. Ai meu sangue ferveu e eu perguntei a ela se o papai não podia limpar a mesa. Sabem o que ela me respondeu? "Você quer limpar a mesa, ou prefere conversar com a cinta? Sim, eu sou do tempo que criar filhos era baseado em duas teorias, a primeira era a palmadas, chineladas ou cintadas. A segunda era usada quando a primeira não funcionava mais, daí era tirado tudo: não podia brincar na rua, não podia assistir televisão, lição de casa + dever extra (todo mundo diz que eu tenho uma caligrafia bonita, mas, o que ninguém sabe é que por trás disso estavam muitos castigos e cadernos de caligrafia, diga-se de passagem que eu era uma criança muito "boazinha").
Mas, voltando ao assunto o que a minha mãe fazia pelo meu pai, eu achava tudo aquilo um absurdo, eu não conseguia ver além daquilo que na minha concepção parecia trabalho forçado. Na verdade não era, isso era um gesto de carinho, minha mãe é independente de mais para se submeter ao que eu achava ser submissão. Minha mãe desafiou meu pai quando ele disse a ela que mulher dele tinha que ficar em casa e cuidar dos filhos, ela disse a ele que continuaria trabalhando porque ela tinha as ambições dela, ela queria construir a casa dos sonhos dela, do jeito dela, e ela a fez. Ela queria ver os filhos tendo melhores oportunidades na vida, e ela o fez! Então, tudo aquilo que ela fazia para meu pai não era submissão, nem questão de ser Amélia, era a maneira dela de expressar o amor e o carinho que sentia por ele.
Hoje que estou casada e que posso ouvir os conselhos da minha mãe sem a pedra do julgamento nas minhas mãos, eu posso enxergar melhor e posso fazer melhor pela família que estou formando agora.
Eu e meu marido somos casados pela segunda vez, e eu decidi fazer diferente dessa vez, decidi ser mais como minha mãe, mas, faço pelo carinho e pelo amor que sinto por ele. Não faço nada obrigada e fui honesta com meu marido disse a ele que não pensasse que o que eu faço ele tomasse como minha obrigação, e sendo meu marido um homem compreensivo e muito carinhoso, alguns dias ele simplesmente diz que é o dia dele de cuidar de mim. Eu posso dizer que a vida é muito melhor hoje do que alguns anos atrás.
Agradeço a minha mãe que sempre foi a Amélia, a mulher de verdade.
Lá em casa foi bem diferente. Meu pai sempre cozinhou e sempre foi do tipo que servia a gente com o prato na mão (o que nunca gostei). Talvez por isso, eu não conseguiria me relacionar com um homem que espere essas coisas de mim, como passar a roupa dele etc. Meu marido nunca foi casado mas sempre viveu sozinho e sempre se virou. Eu nunca servi café da manhã para ele nem nunca dei um prato de comida na mão dele. Em geral não passamos roupa (minha máquina tira os amassados), mas quando uma camisa dele tá amassada é ele mesmo quem passa, nunca eu. Nem espero que ele faça o meu prato ou passe minhas roupas pra mim. Não tem nada a ver com feminismo ou falta de amor. Eu sou feminista sim, super, mas isso é uma coisa bem diferente. Eu não faço porque não gosto e ele não pede porque sabe que eu não faria nem se ele pedisse. É como a coisa de usar o nome do homem ao casar. Eu sempre achei isso extremamente machista, mas não julgo as mulheres (99% delas faz isso) que adotam o nome do marido ao casar. Mas eu deixei bem claro quando a gente namorava que eu jamais adotaria o nome dele. E assim foi. Ele achou o máximo e super diferente das mulheres americanas eu me recusar a usar o nome dele. Acho algo moderno. E se ele tivesse feito questão? A gente teria brigado porque eu não teria mudado de ideia. Eu só aprendi a cozinhar depois que casei. Ele não cozinha nada, então a regra aqui é que ele come o que eu faço. Se a comida tiver algum ingrediente que ele não curte, ele tem de tirar do prato dele porque eu não faço diferente só porque ele não gosta. Mesmo assim, existe um intenso amor, respeito e apoio mútuo em nosso casamento que está sempre presente. Acho que a forma como um casal demonstra esses sentimentos é diferente em cada casamento. No meu, levar café na cama, botar e tirar o prato não tem relação nenhuma com cuidado nem amor. Então cada um se vira com suas próprias coisas e elas nunca foram sequer conversadas aqui porque nunca foram jamais cogitadas, nem da parte dele, nem da minha. É por isso que eu acho que como tudo o mais na vida, a dinâmica de cada relacionamento é muito diferente e pessoal. O que funciona pra um casal, às vezes não funciona para outro. Minha mãe jamais interpretaria colocar o prato pro meu pai como demonstração de amor. Tanto é que ela nunca fez. Sua mãe sim. Acho que ambas as situações são possíveis e super válidas, dependendo da pessoa e por que que está fazendo. Para mim, não funciona assim. Lembro que escrevi no blog uma vez que aqui em casa quem cozinha manda, o que significa que eu não faço nada que eu não coma, por exemplo, eu não como peixe, então se meu marido quiser comer (ele ama), ele mesmo tem de fazer. Um cara me mandou um email dizendo que meu marido era frouxo e eu preguiçosa e folgada, que não sabia como meu marido aguentava uma esposa egoísta assim. Mas ele conhece a gente? Conhece nossa relação e todas as outras coisas que fazemos um pelo outro? As coisas que eu faço todos os dias por ele? Não, entao nem me dei ao trabalho de responder. Eu acho que você tem de viver sua relação como você acha que deve. Torna-se válido quando funciona para vocês e se está funcionando assim, está certa em fazer. Como aquele seu post em que você conta que seu marido não gosta de cebola então você pica bem picadinha pra ele não ver. Eu coloco pedações de cebola e meu marido tem de comer como eu faço, porque eu adoro, senão, que faça sem cebola ele mesmo. Se eu acho que você está errada em fazer do jeito que faz? De jeito nenhum. Vocês estão felizes com as escolhas que fazem e isso que importa, o que funciona para vocês, não para os outros. Acho também legal observar que você parece se espelhar muito na sua mãe, na relação dos seus pais, eu também faço o mesmo. E se tem funcionado pra eles por 40 anos e para mim por 3, então é porque estamos no caminho certo, né? Sabe aquela máxima clichê mas super verdadeira? "Não quero ter razão, quero ser feliz". :0)... Beijo, linda!
ReplyDeleteOi Linda...
ReplyDeleteNossa, este post me lembrou e muito o meu pai. Na minha casa já foi o contrario. Meu pai não deixava minha mãe ir trabalhar (ele sempre bateu o pé e disse que era ele quem tinha que dar o provento da família) e ssim foi por muito tempo! Minha mãe cuidando e educando as 3 filhas e o meu pai trabalhando. A medida que fomos crescendo as coisas começaram a apertar mais pois meus pais fizeram questão que prover a melhor educação para nós três e escola particular não era barato não, foi aí que minha mãe começou a trabalhar. O meu lindo e romântico que eu me lembre do relacionamento dos meus pais, era que ele levava café na cama pra ela religiosamente TODOS OS DIAS, ele sempre gostou muito de cozinhar e até brigava por causa disso! Ele queria cozinhar sempre! A comida? Sempre muito boa! Minha mãe e eu (a única que gosta de cozinhar na casa) aprendemos um monte com ele. Ele era um verdadeiro chef, inventava as coisas com os ingredientes que tinham lá em casa!
Eu e o Ryan já entramos em um consenso em relação a isso. Como ele não sabe cozinhar eu assumi este posto (adoro cozinhar). Eu o respeito muito a ponto de não fazer (para ele) o que ele não gosta. Não vou obriga-lo a comer o que ele não quer. Ele não gosta de repolho, eu amo, farei sim a salada de repolho cru, se ele quiser ou não quiser colocar no prato, fica a critério dele. Procuro sempre agrada-lo fazendo coisas que ambos gostamos, acho que isso agrega muito ao nosso relacionamento na minha opinião. Eu não gosto muito de carne de porco, ele dora, concerteza farei para ele a carne de porco que ele gosta tanto, não me custa nada.
Por isso digo que cada relacionamento e diferente, e funciona de formas diferentes!
O bom é a gente crescer e rever nossos conceitos. Eu acho que as pessoas devem fazer o que quiserem para ficar felizes, sabe? Pode ser dona de casa ou secretária. Criticar a relação do outro é complicada, cada relação tem uma dinâmica diferenciada. Eu, por exemplo, detesto cozinhar, mas acho um absurdo, meu marido chegar em casa depois de 30 horas de plantão e não ter comida pronta, mas também acho um absurdo eu chegar em casa, depois de um dia de trabalho e ele ter ficado o dia em casa e não ter preparado o jantar. Na minha casa, meus pais faziam as coisas juntos e caso um estivesse mais ocupado, ficava pro outroa responsabilidade da tarefa. Já meu marido foi criado no interior da Bahia vendo a mãe ser dona de casa e servir a todos. Eu sempre achei aquilo estranho, mas minha sogra ama cozinhar, ama servir, ela fica bem, ela sente como se tivesse cumprido o trabalho. eu demorei para entender isso, mas entendi que esse é o trabalho dela e ela ama fazer o que faz.
ReplyDeleteEu achei a abordagem dessa postagem muito interessante porque pode trazer varias reflexões em relação ao assunto. Eu, particularmente, acho que o ato de carinho so e' CARINHO em sua totalidade se existe uma troca e, quando isso acontece, penso que e' instintivo, não e' uma regra matemática. Eu te dou = você me da'. Isso e' intrínseco de quem gosta, de quem respeita e de quem cuida.
ReplyDeleteEu não acho que fazer uma tarefa domestica pode simbolizar submissão como você comentou sobre sua mãe. Acho que submissão tem mais a ver com você se sentir OBRIGADO/A a.
No entanto, sabemos que, historicamente, a mulher foi educada para servir e mesmo nos dias atuais, muitas mulheres reproduzem, talvez sem refletir, o mesmo comportamento de suas avós, bisavós, etc, etc.
Ate os meus nove anos, eu fazia a cama do meu irmão. Eu sou mais velha que ele apenas dois anos, sendo assim, ele poderia fazer a cama dele. Claro, eu obedecia as ordens de minha mãe e quando completei meus nove, disse que não faria mais porque ele poderia fazer o mesmo que eu. Converso muito sobre esses temas com minha mãe, talvez por ter observado o conceito "engessado" que ela tinha do que seria uma esposa, fruto da criação que ela teve. Bem, os tempos mudaram e minha mãe também mudou. rs Sorte dela, azar do meu pai. rs
Fazer qualquer coisa sem obrigação e por carinho, para mim, e' carinho e ponto. Fazer algo forcado, e' submissão. Achei muito interessante você ter dito que diferente do casamento anterior, você resolveu fazer diferente. Parabéns, Pipa! Acho que esse e' o grande barato da vida. Não nos fecharmos para mudanças que podem nos apresentar novos caminhos e alegrias.
E para contrariar os conceitos de carinho e submissão dos dicionários, eu só posso encerrar meu comentário dizendo que apanhar e bater também pode ser demonstração de carinho. E viva a relatividade! rs
Retificando: Eu não acho que fazer uma tarefa domestica pode simbolizar submissão como você ACHAVA QUE sua mãe FAZIA. Acho que submissão tem mais a ver com você se sentir OBRIGADO/A a.
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