Quando eu cheguei aqui nos EUA, eu comecei a ouvir um programa de rádio cujo locutor discute alguns problemas do dia-a-dia e dá dicas sobre finanças, saúde, recreação, etc.
Esses dias, John Tesh (o locutor), estava discutindo o caso Miley Cyrus e a declaração que o pai dela, Billy Ray Cyrus fez para uma revista. O pai diz que se tornou amigo da filha, deixando o papel de pai um pouco de lado, e isto o fez perder o controle sobre a filha e suas atitudes.
Eu não posso discutir o papel de mãe ou de pai, uma vez que não sou mãe. Mas, eu posso discutir o meu papel de filha e a influência dos meus pais na minha vida.
Não me lembro nenhuma vez enquanto criança ou adolescente poder falar com meus pais como falava com meus amigos. Meus pais, embora sejam muito mais velhos do que os pais dos meus amigos (minha mãe é 41 anos mais velha do que eu e meu pai é 50 anos mais velho, meu sobrinho mais velho é 10 meses mais velho do que eu. Eu sou a rapinha do tacho) em muitos aspectos tinham uma mente mais aberta e eu tinha certa liberdade que a maioria dos meus amigos ainda não tinha, como por exemplo, aos 13 anos eu já ia ao centro de SP comprar bugiganga na Rua 25 de Março ou na feira da Praça da República, enquanto alguns dos meus amigos mal podiam ir ao shopping próximo a nossa casa sozinhos.
Mesmo tendo essa certa liberdade, meus pais sempre fizeram questão da formalidade, da maneira respeitosa de falar com eles e com outros adultos e de dizer aonde eu ia, com quem eu ia, se tinha algum telefone que eles pudessem ligar e sempre fizeram questão de conhecer meus amigos. É claro que eu não fui o exemplo de adolescente, sempre fui "bocuda", levei umas boas cintadas da minha mãe e alguns puxões de orelha do meu pai (por favor não vá pensar que meus pais cometiam child abuse porque hoje em dia as crianças é que cometem parents abuse), sem falar dos castigos que me privava de brincar na rua ou ter alguma coisa que queria.
Mesmo depois dos 18 anos eu tinha que dar satisfação do que fazia, eu já trabalhava há dois anos e ainda sim tinha que me explicar para meus pais.
Eu podia conversar com meus pais, especialmente com meu pai (uma pessoa mais calma e serena do que minha mãe, muito mais enérgica, mas que sempre ajudou a resolver meus problemas) discutir alguns problemas, mas meus pais sempre trabalharam duro para me "manter na linha", e confesso que quando fiz 18 anos às coisas mudaram um pouco e eu me tornei uma rebelde "sem calça". Nunca usei drogas e não consumia bebida alcoólica (continuo não consumindo), mas eu gostava de sair à noite e de dormir na casa de algumas amigas, o que fazia minha mãe enlouquecer de raiva, e também tive um namorado que minha mãe não aprovava e nesse período eu realmente testei a paciência e o amor dos meus pais.
Quando eu na minha fase mais rebelde desafiei a autoridade dos meus pais, minha mãe me mandou "hit the road", uma vez que eu não queria viver sob as regras de nossa casa, eu então teria que procurar um local para morar. Por algum tempo morei com meu irmão e sua família e por outro período eu morei com minha melhor amiga e sua mãe. Nesse tempo eu reconheci que estava errada e que não podia viver um dia de cada vez tentando sobreviver. Desculpei-me com meus pais e voltei para casa.
Mesmo tendo tido esses problemas com meus pais, eu agradeço todos os dias as atitudes que eles tiveram diante dos nossos problemas. Eu sou grata por meus pais terem sido pais primeiro, e hoje posso dizer que eles são meus amigos, e isso veio na minha vida adulta, agora em que preciso de uma amiga (o) para me dar conselhos e me ajudar com problemas que ela (e) já vivenciou.
Essa é a minha visão enquanto filha, mas espero no futuro desempenhar meu papel de mãe tão bem quanto minha mãe o fez, e na vida adulta dos meus filhos poder me tornar uma boa amiga.
Concordo plenamente. Uma vez ouvi de uma pessoa: "minha mãe não é minha melhor amiga. Minha melhor amiga é minha melhor amiga. Minha mãe é minha mãe". Ela tinha 13 anos e na época me fez pensar. Não significa que não se pode ser "também" amigo do filho, mas o papel de pai e mãe vai sempre se sobrepor ao de amigo(a). Lá em casa fomos criados da mesma forma e isso nunca atrapalhou o diálogo entre nós e meus pais. Minha mãe é minha conselheira mas, como você disse ao descrever sua própria relação com seus pais, quando eu era adolescente isso não era possível, pelo menos não como agora, porque eu precisava de orientação, disciplina e autoridade. Acho que falta muita autoridade hoje na relação pais e filhos. É algo para se pensar. Beijo
ReplyDeleteOie,
ReplyDeleteYou got a point!! Quando eu era crianca sempre criei uma imagem de que meu pai nunca poderia ser meu amigo, depois quando adolescente fui conhecendo o lado amigavel e interessante dele que jamais pensei que existiria. NOs tornamos grandes amigos, mas o respeito entre pai e filha sempre existiu, sou grata a ele por ter mantido essa relacao entre nos.
Agora que vou ser mae, penso muito no relacionamento que quero ter com meu filho(a) e isso me atemoriza um pouco. But, you know, parents are not perfects...they are parents!!
:)
A relação que construí ao longo da vida com minha mãe possibilitou que hoje ela seja minha melhor amiga, mas na infância e adolescência as pessoas precisam de limites, precisam entender as regras e seguí-las, precisam saber que devem ser responsáveis pelos seus atos e que existem formas inteligentes e não-destrutivas de se quebrar regras. Amigo é bom ter na escola, vizinhança; função de pai e mãe vai além da função de amigo. Combina a função de educador, de médico, de amigo, de treinador, de psicólogo...
ReplyDeleteTema muito bom, Pipa. Provoca um monte de reflexoes. Eu acho que muitas vezes os papeis podem ser confundidos, talvez mais por parte dos filhos. Minha mae, por exemplo, sempre exerceu os dois papeis: sempre foi minha mae e amiga! Durante a adolescencia, eu nao tive maturidade (o que e' natural) para entender quando ela saia da funcao amiga para exercer a de ser mae e isso causou conflitos entre nos. Hoje entendo melhor e acho que ela tambem, afinal, pais e maes nao sao perfeitos, cometem erros, se sentem inseguros... Em minha opiniao, as duas coisas podem ser possiveis mas nao acho uma atitude saudavel confundir esses papeis. Pais e maes teem papeis unicos, precisam exercer autoridade, cobrar, cuidar, proteger, dizer nao mil vezes mas isso nao significa que a relacao pais e filhos nao possam ter caracteristicas semelhantes ao de amizade como companheirismo, confianca, cumplicidade, trocar confidencias e compartilhar momentos de alegria juntos. Sempre adorei a companhia de minha mae, esquecendo claro, dos dias que ela tava com a macaca. Mas e' diferente com amigas? rs
ReplyDeleteEnfim, acho que entre pais e filhos existe um relacionamento que transcende a ser amigo, um relacionamento complicado as vezes mas muito interessante. Entre amigos, pode ser tao complexo e maravilhoso quanto mas e' outra coisa e isso deveria estar claro entre pais e filhos. Quem sabe nao e' dai' que surge tantos conflitos...