Friday, December 31, 2010

Participando do Sempre um Novo Começo

Acho que o título do post inicial desse blog conversou muito bem com as impressões que eu tive e venho tendo sobre ter decidido viver neste novo e nem tão novo país.
Sempre um novo começo! Decisão quase sempre tomada por nós e embora este poster fale de um começo específico, eu vou 'caminhar' também sobre outras idéias de 'começos'.
É comum a muitos que migram para uma outra cultura, comentar com mais frequência sobre as disparidades existentes entre a cultura de origem e a que se está vivenciando porque em geral, é a diferença que nos provoca ... assombro? Sensação do novo? Problemas? Inadaptação? O que quer que seja, é a diferença a mais enfatizada. E não será a maneira como ela é interpretada e vista que gera tanta discriminação sobre tantos aspectos no mundo? Papo pra outro poster, quem sabe...
Mudar para um novo país, exige quase sempre um novo começo. Isso já sabemos. Em meu caso, a nova língua, o novo clima, os novos amigos, a nova família em fim, os novos desafios que a mudança nos apresenta, mas que ao mesmo tempo, tudo e nem tanto há de tão NOVO assim.
Explico-me com perguntas! Você lembra da febre da Barbie no Brasil? Você já viu a quantidade de roupas e artigos grafitados com palavras do vocabulário da Língua Inglesa? Os filmes clássicos e comédias românticas que você e seus amigos assistem são made in USA? O seu pai tem todos os discos dos Beatles, Bee Gees, Led Zeppelin, ABBA, Pink Floyd, a Joplin e cia LTDA? Você adora o sorvete da McDonald? - eu só gosto disso! (O: Arma a árvore de Natal mesmo sabendo que aquele pinheiro não é típico em zonas tropicais como no Brasil? Sabe quais as cores da bandeira dos EUA, o nome do atual e primeiro presidente? Sabe o significado de 'How are you?, blue, hello, the book is on table? Percebeu que muitos dos programas de TV que vemos no Brasil são cópias dos daqui e outros países? Então acho que você entendeu o motivo por não ser tão novo assim.
Não! Não estou reduzindo a cultura estadonidense a essas meras informações. É somente um simples intermédio com aquilo que muitas vezes sabemos sobre signos de uma cultura e nem sempre sabemos o que e o quanto sabemos. E todas essas e outras informações que estão internalizadas pode nos fazer pensar sobre o velho conceito de que viver num novo país, é ver tudo novo, embora, tenha muito de novo, depende de como você projeta o seu olhar e do seu conhecimento de mundo.
Como eu ia saber, por exemplo, que meu número de calçado aqui era 5.5, meu busto 34C e meu jeans 4? (e vocês não imaginam como eu sofro com isso, rs). Como ia dizendo, depende de seu conhecimento de mundo, sobre vários aspectos, o meu ainda é muito limitado e por isso, muito é novo e outro tanto nem tanto. São varias todas as diferenças E identidades percebidas na rotina diária. O meu mergulho nesta cultura não é ainda profundo e o que estou dizendo não são verdades absolutas. Falo sobre como estou conseguindo absorver, entender e como lido com minhas experiências no lugar onde estou vivendo atualmente.
Sempre um novo começo! Sem sair do lugar também. Quem disse que não? Quantas vezes tive que recomeçar vivendo na mesma cidade em que eu nasci e fui criada? Recomeçar em um novo emprego, com a cara da nova chefe, a nova ideia, os novos conceitos, o novo curso, a nova turma de alunos, o novo namorado, a nova casa, a nova saudade?
Quantas vezes já não me senti perdida nas expressões linguísticas de cada estado que visitei no Brasil? E era a mesma cara de assombro e surpresa que faço para a nova palavra e expressão idiomática que aprendo aqui. Quantas vezes notei diferenças no modo de vida em uma cidade ali, bem perto a minha de origem? Bastou mudar de cidade e perceber que é sempre Um Novo Começo. Para descobrir que minha fruta favorita tem outro nome, que o juju é geladinha, que o trânsito é ciclístico, que o sotaque parece o mineiro e tudo foi também Um Novo Começo. Sem mudar de estado!
Viver há quase um ano aqui, me fez desmitificar uma série de impressões que eu tinha sobre muitos aspectos dessa cultura, talvez fundamentados com o discurso tão frágil e fragmentado da mídia e outros meios. O muito que vejo aqui também está lá e o muito de lá, não vejo aqui sempre e por isso tento despir meus olhos daquilo que minha impressão acha estranho e deseja discriminar no segundo inicial porque com certeza, seria igual se fosse o contrário. E assim vou seguindo: receptiva aos tombos que me ensinam, a conquista de cada passo dado, a nova família amável que ganhei e certa de que ali, aqui e lá, pode ser Sempre um Novo/Velho Começo.

Lidar com o estranho não é tentar fundi-lo, nem sintetizá-lo, mas tentar traduzi-lo ainda que seja com os limites das palavras que o lugar onde estamos nos dá. Reconhecer os limites do nosso olhar para tentar imaginar outros modos de vida, outros modos de se apropriar da linguagem para construir mundos, gramáticas da existência. O estranho não é algo tão separado do familiar e nem é o novo, mas talvez vestígios do que ficou recalcado, reprimido para dar consistência a uma ordem.
(...)
Assim, pensar em identidade e diferença é antes de tudo pensar na maneira como se lida com o que é estranho e com o que é familiar, como os seres humanos criam identidades ou não e como se relacionam e dialogam (ou não) com a diferença.

(Cristina Maria Da Silva. Metáforas da Cultura: Diferença e identidade na leitura da vida social.Revista Espaço Académico. Dez./2006; n. 67)



Luz E. Green
Baiana que não pula Carnaval mas ouve ainda Os Novos Baianos;
Não roda a baiana e nem dança na Boquinha da garrafa;
Adora a Bahia e o Diverso;
Vivendo atualmente no Texas;
Alegre, agradável, gosta de gente mais do que de coisas, acredita em vida em outros planetas, assume as merdas que faz com grande facilidade, belisca criança mal educada, medita, amante de
Literatura e de Música, sente saudade de momentos que nao teve;
Adora tecnologia e pergunta a si mesma se consegue viver sem e, de todo o dito, o avesso também.



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Pipa, minha preta:

Obrigada pelo convite e por ser tão receptiva 'a nossa amizade!

Eu tentarei transmitir as descobertas em minha posição como 'iniciante' aqui. rs

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