Wednesday, August 3, 2011

Os Estados Unidos e a Questão Racial


Não é segredo para ninguém o racismo que ainda persiste nos EUA (e no Brasil também, embora, ocorra de maneira diferente). Vou deixar muito claro aqui: NEM TODO AMERICANO É RACISTA, PESSOAS BOAS E PESSOAS RUINS EXISTEM EM QUALQUER LUGAR, ASSIM COMO NEM TODO BRASILEIRO É LEGAL!!!
Particularmente eu nunca sofri nenhum ato de racismo nem no Brasil, nem aqui. Mas, isso não me faz menos indignada.

Como brasileira, eu tenho diferente origem tratando-se de raça, meu pai biológico é negro e minha mãe biológica é branca, mas a verdade é que no Brasil pouquíssimas pessoas podem dizer que são essa ou aquela raça, porque somos, sim, multirraciais.

Muitos brasileiros se espantam ao chegar aqui e descobrir que não são brancos, assim como aconteceu com minha irmã, ela mesma relatou em uma conversa que tivemos no Skype que o Brasil é mesmo multirracial, e que ela não é branca (eu sou adotada, meus pais adotivos são "brancos")!

Mas, a minha discussão aqui hoje é devido ao termo que o deputado republicano pelo estado do Colorado, Doug Lamborn, usou ao citar o Pres. Barack Obama (minha conversa aqui não é sobre minha preferência política). O referido deputado na sexta feira do dia 29 de julho disse em seu discurso que se você se associa ao Pres. Obama é como tocar um bebê de piche, uma vez que você o toca você está preso a ele http://www.examiner.com/democrat-in-national/republican-racism-again-rep-lamborn-calls-obama-tar-baby .Os republicanos estavam discutindo a reforma econômica proposta por Obama.
O que é isso??? Sério mesmo??? Em 2011??? Detalhe, ele não é o único político que fez uso de termos racistas com relação ao Presidente Obama.

Eu sempre perguntei ao meu marido o porquê de tantos problemas raciais, por mais que meu marido tentasse me explicar eu ainda não conseguia entender completamente. Por mais que se viva em um país que não seja o seu de origem, você não conseguira entender por completo a cultura e o comportamento, você pode se aproximar da cultura, mas, não a compreenderá completamente, assim como em nosso próprio país não entendemos todos os aspectos da nossa cultura segundo o regionalismo. 
Outro dia assistindo a PBS eu me deparei com o documentário Freedom Riders http://www.pbs.org/wgbh/americanexperience/freedomriders/ que relata a luta pacífica de jovens há 50 anos travaram contra a segregação racial que ainda persistia no Sul dos EUA. Pessoas negras não podiam se sentar nos bancos da frente dos ônibus, tendo de se sentar nos últimos bancos. Não podiam esperar o ônibus no mesmo local que as pessoas brancas, tinham que esperar em um local designado para eles. Não podiam comer nos mesmos restaurantes, não podiam ir à mesma escola para pessoas brancas, enfim não podiam uma série de coisas, e essas pessoas denominadas Freedom Riders estavam dispostas a lutar contra isto e chamar a atenção do governo para que as leis de segregação fossem abolidas. Quando assisti ao documentário eu consegui ter uma idéia sobre o porquê o racismo ainda persiste tão claramente nos EUA. A história dos Freedom Riders é muito recente, 50 anos é muito recente. O fim da segregação racial ainda é muito recente, o que não justifica o racismo em si ainda presente.

Os americanos nas décadas de 50 e 60 travaram muitas lutas contra a discriminação racial. São lutas que permitiram que estudantes de diferentes raças pudessem ir a universidades predominantemente de etnia branca. MV Bill no documentário Black in Latin America  http://www.pbs.org/wnet/black-in-latin-america/featured/black-in-latin-america-full-episode-brazil-a-racial-paradise/224/ (também da PBS) diz a Henry Louis Gates Jr. sobre essa diferença no comportamento americano com relação ao comportamento brasileiro sobre lutar pelos direitos de igualdade, MV Bill diz que no Brasil o negro foi marginalizado (no sentido de ser posto a parte) tanto quanto o americano, mas, o negro americano foi às ruas, marchou em diversas cidades http://en.wikipedia.org/wiki/African-American_Civil_Rights_Movement_(1955%E2%80%931968)  exigindo direitos iguais, enquanto nós, brasileiros, vivíamos e ainda vivemos a falácia da igualdade racial.

Alguns de meus amigos brasileiros e mesmo parentes me perguntam se já passei por algum tipo de discriminação, e eu digo que não. Primeiro as pessoas aqui não me vêem como negra (eu não me denomino negra, assim como Obama, eu me denomino birracial, eu não posso negar o meu outro lado da genética), e sim como hispânica, ou mexicana ou porto riquenha, mas, uma vez em uma loja em que costumo comprar tecido para fazer artesanato a senhora que estava no caixa e que já estava acostumada a me ver por lá disse que meu nome não aparecia no sistema (eles tem cartão de milhas em diversos estabelecimentos aqui), ela, então, me perguntou: "Seu nome é Maria, correto?". Maria é um nome comum para nós, tanto de origem latina, quanto de origem hispânica. Então, muito comumente em uma pequena cidade como a que eu moro as pessoas tendem a julgar que qualquer pessoa do sexo feminino de origem hispânica tenha o mesmo nome. Errado!!! Não meça todo mundo pela mesma medida!!! Eu respondi a ela que eu não era mexicana, e que nem todas as mexicanas se chamam Maria (conheço mexicanas que se chamam Brenda, Lidia, Aída, Patty e Terry e tantos outros nomes, na verdade só conheço uma Maria que é mexicana) e que se ela tem duvida do nome de alguém ela deveria perguntar o nome dessa pessoa e não julgá-la baseada na aparência. A caixa ficou até vermelha não sei se de vergonha ou de raiva. Foi esse um ato racista? Não consigo dizer, mas, posso dizer que essa pessoa ao menos fez um perfil baseada na minha aparência. Isso é ignorância. 
Outro fato que discuti com meu marido é que em tempos em que se trava uma luta contra o bullying é triste ver uma pessoa usar um termo pejorativo e ainda racista, ainda mais se tratando de uma pessoa pública.
Claro que o deputado se desculpou, mas, desculpar-se não é suficiente e ontem ao ouvir um programa de rádio as pessoas estavam dizendo que esse deputado deveria deixar o cargo, uma vez que, racismo é crime.
Outra coisa mais intrigante foi o fato de que as grandes mídias não falaram nada a respeito, exceto por Keith Olbermann. Uma coisa é certa, se fosse um presidente de etnia branca e um político de outra etnia fizesse um comentário racista com toda a certeza do mundo a mídia estaria fazendo um forrobodó sobre o assunto. Mas, os EUA não querem mais ser vistos como racistas, os republicanos são mestres em esconder estes atos como muitas vezes fizeram com Sarah Palin e seus comentários fora de contexto.
Honestamente eu nunca gostei de discutir questões étnicas, claro que a questão da escravidão vivenciada pela raça negra foi atrocidade, é uma questão irrefutável. Porém, nos dias atuais quando se vê uma criança chorando faminta a última coisa que consigo olhar é a cor dela. A pobreza não tem etnia e não tem cor. A pobreza tem pais desempregados, crianças passando fome e famílias perdendo suas casas.
Quando vejo um político se ater a uma questão racial ou social (como no caso do Deputado carioca Jair Bolsonaro que não só foi racista, mas também homofóbico) ao invés de fazer o que ele deveria fazer, ou seja, trabalhar pelo bem estar da população porque essa é a razão pela qual esse político foi eleito, me entristece, me faz lembrar o porquê eu voto nulo nas eleições brasileiras.
Meu caro político, seja você qual nacionalidade for, quem o elegeu paga o seu salário com muito suor e sacrifício, os impostos arrecadados pelo país vem de pessoas que são de diversas etnias, se você se acha tão mais importante devido à cor da sua pele, ou seu status social, ou pela opção sexual, então você deveria escolher receber menos em seu salário, não contando com o valor do dinheiro daqueles que você deliberadamente discrimina.
RACISMO NÃO!!! DISCRIMINAÇÃO NÃO!!!

6 comments:

  1. Bato palmas a você Pipa, por este post. Concordo em genero, numero e grau!

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  2. Martin Luther king falou que B'ham era a cidade mais racista do país e aqui a coisa é horrível. Todo mundo finge que se respeita, mas negro não fala branco e branco não fala com negro, simples assim! Muito triste isso, muito triste saber que em pleno século XXI ainda tem gente que se ache melhor baseado na própria cor da pele.

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  3. Post ótimo! Não tem nem o que discordar dele. Uma coisa que acho surpreendente nos EUA é como você tá numa rua e todo mundo é branco, vira uma esquina e todo mundo é negro, é tudo muito segregado, apesar da falsa impressão de integração. Detroit tem uma população de 85% de negros (parece mais 99%) e eu morro de medo de ir lá, porque a violência é grande e as pessoas ficam falando: "não vai lá, eles odeiam negros". Fico impressionada com a rixa, a segregação tanto de um grupo quanto de outro. Só uma correção, brasileiros não são hispânicos nem nos documentos oficiais do governo, censo, nada. Hispânico tem origem hispânica, espanhola, o que o brasileiro não tem. Sim, você vai encontrar americanos ignorantes (são muitos) que acham que é tudo a mesma coisa e pensam que falamos espanhol, mas é um conceito errado. Eu até tirei essa dúvida no dia que fui fazer meu biometrics, logo que mudei para os EUA e a oficial me disse que brasileiro não se enquadra, pelos parâmetros do governo, no grupo considerado hispânico. Até porque, etnia não depende de onde você nasceu, mas de sua herança genética. Se sua herança genética é européia você não vai se tornar asiática só porque nasceu na China. E por aí vai. Por isso a recomendação é que brasileiros respondam forms com sua informação racial, não geográfica, porque nós não somos hispânicos. Até escrevi um post sobre isso, pro caso de querer ler: http://www.elieverywhere.com/2008/11/brazilian-american-hispanic-or-latin-american-2/. Adorei seu post!!! Espero que um monte de gente pare aqui pra ler e pensar. Beijo

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  4. Meninas obrigada pelos comentários!
    Essa segregação ainda está presente, não se faz pela lei como era antes, mas, se dá pelo comportamento, e é ridículo.
    Com relação a hispânicos, Eli, eu não disse que somos hispânicos, eu escrevi que as pessoas aqui pensam que eu sou hispânica, pensam que eu sou mexicana ou porto riquenha.

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  5. Oi Pipa! Eu acho que o racismo nos EUA é bem mais evidenciado que aqui. Nos lugares que andei tinha bairros separados. Inclusive os bares e boates eram separadas por raça do mesmo jeito. Lá eu também descobri que não sou branca! Mas não sofri nenhum preconceito, muito pelo contrário.

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  6. Ah sim, esqueci de comentar que quando eu passeava com Jason, muitas pessoas ficavam me olhando e depois vinham me perguntar de onde eu era, pois não conseguiam identificar. Para você ter idéia: India, Israel, Itália eram as adivinhações. Quando eu falava Brasil, vinha um certo espanto. E ainda diziam: habla espanol? Eu respondia: Eu falo português. E ficava sorrindo.

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